No dia em que nasceu
Teria alguém dito ao furtivo
Menino na sua aurora
A cor cinza do seu ocaso?
O fim que veio com o início
E que o acompanha
Assim são certos signos
Que fazem de uma pessoa
O peso vivo do fim
Que ainda não veio
É assim que se morre
Todo santo dia
Porque esse menino
Como tantos outros
Não pode fugir ao seu
Destino
Mas o destino não existe
É palavra que inventamos
Para justificar as desventuras
Disse o sábio:
"Viver é sofrimento"
Como se morrer fosse alguma coisa
Viver é viver e só isso
Um campo em que plantamos
As sementes que temos
E às vezes, mas só às vezes,
Colhemos
Noutras a tempestade nos leva
Mas as sementes dormem
Seguras sob a terra
Diferente desse menino
Fruto de semente indigna
De onde? Quem sabe?
Sina dos bastardos e das sementes
Sem procedência
Mas há delas que abundam
Foi assim com ele
Mas ele mesmo percorreu
Seu campo com sua sina
Assinalada bem fundo
Na sua consciência:
"Não sou nada"
E era tanto.
Quem poderia lhe dizer isso
Que ele acreditasse?
Muitos disseram realmente
Mas ele estava preso em prisões
Sem grades.
E viveu sempre à luz do seu último dia.
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