sábado, 30 de julho de 2016

Cinco Contos Minimalistas

Suspense
Francisco estacou frente à escada ensanguentada. Som de goteira. O coração batendo forte nas têmporas. Na penumbra, a faca avermelhada espreita o limiar de suas costas. Som abafado, uma palavra presa nos lábios. Silêncio.


Romance
Fecha o armário. Livros enchem suas mãos. A escada estreita, primeiro degrau. Para. Olhos nos olhos. O sorriso doce encanta ajudado pela sedução das primeiras palavras. E os corações não bateram mais sozinhos.

Terror
As sombras escondem-se das chamas na caverna. Som de uma respiração grotesca acima nos vãos das rochas mal iluminadas. O vento leva o fogo e a luz. As sombras agitam-se. Garras cortam bruscamente a carne lançando nas paredes sangue e vísceras.

Comédia
No refeitório. A mulher de vestido curto e saltos altos caminha pelo corredor-passarela. Levanta a cabeça, a gravata encontra o café. A mulher ri. A mão mergulha no mingau do vizinho, quente. Levanta, joelhos na mesa, coisas ao chão. Desequilíbrio. Cai para trás com a cadeira e a mão ainda agarrada na calça do chefe ruborizado por causa do calção cheio de corações. Gargalhadas.

Ficção Científica
Cem anos. A imagem azul enche a tela e a felicidade de uma geração que não conheceu sua Terra inunda os corredores e salas da imensa nave-colônia. O tempo flui e o mundo enche-se de verde e novas espécies correm por seus campos jovens. Nas cidades cientistas miram as estrelas e colhem os dados que darão suporte às novas levas de colonizadores. No bojo da nave olhos contemplam o último céu que verão. Oitenta anos. No fundo negro do espaço uma joia verde-azulada se destaca. Lar.

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