Venha sentar-se...
Venha sentar-se comigo na relva e ver
Aqueles dois pássaros que voam despreocupados
Contra um céu azul forrado com nuvens
Que parecem algodão
Invejo sua liberdade
De apenas experimentar a vida sem
Considerações sobre o que seria viver
Eles voam alto, não se lhes bate à porta do coração
Se vão continuar, se um vento ou predador vai lhes arrebatar
Logo em seguida
A vida é somente viver
E isso já é tudo o que se pode dizer
Não vive quem gasta o tempo escasso
Na hipótese de achar nela significado
A vida por si já é o prêmio almejado
E tudo o mais que se pode almejar
Se for boa, então não há o que reclamar
Se ruim, ainda assim foi vida, experiência, ser
Que é muito mais que o pó da calçada pode querer
Mas quem aceita apenas viver sem preocupações?
Isso nos faz diferentes dos pássaros
Vivemos a vida como experiência mental
Mais do que física ou mera existência
Pensamos, sofremos, e dilatamos
A vida com uma miríade de conceitos
Numa vida vivemos várias vidas
E somos muitos em um só peito
E se por um pouco nos lançamos
À hipótese de apenas alçar voo
Logo olhamos para baixo
E nos vemos como formigas
Duvidamos, nos faltam as asas
E caímos.
Como encontrar sabedoria nisto?
Ou se vive preocupado, morrendo antes de viver
Ou irresponsável, arriscando tudo em cada momento
O sábio diria: “vive”
Mas vive com prudência, equilibrando
Liberdade e responsabilidade
Não te entregues demais à primeira
Pois serás pasto de ave de rapina
Nem afundes demais na segunda,
Pois não verás a vida que passa saltitando
Em suma, se há um caminho
Esse é o do meio.
Então voa e aproveita o sol, as nuvens e
A paisagem,
Pois se há algum significado em tudo, é este
Que a vida não é uma coisa, mas um passar, um ir e vir
Um processo, uma viagem, um percurso
E encontros
O pássaro não voa sozinho.
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