segunda-feira, 13 de julho de 2015

"Hipotetizadores por Natureza"


Sabe, tenho ouvido muitas vezes e em diversas situações diferentes que é arrogância querer saber sempre mais, que existem coisas que estão fora do nosso direto conhecer. Eu não consigo ver as coisas dessa forma, eu penso que se temos tal capacidade, imagine você as razões que quiser para sermos assim, é porque temos que usá-la para conhecer o mundo ao nosso redor. Essa é nossa maior dádiva!
A gente está criando hipóteses o tempo todo, mesmo as pessoas mais dogmáticas. Existem dois modos principais de criar essas hipóteses. A primeira é usando o raciocínio puro, a lógica intelectual, a expansão da razão sobre o objeto. A segunda, minha preferida, é a aplicação do conhecimento que já temos, mesmo que em situações diferentes, num explicação de porque as coisas são assim. Ambas essas duas formas de formulação admitem, na verdade exigem, o teste da realidade. E mesmo que ela passe no teste isso ainda não significa que ela seja permanente. Nossas hipóteses são temporárias, elas duram até termos uma explicação melhor.
Outro dia alguém formulou um problema: "Por que nossos pés e mãos esfriam tão rápido, algumas vezes, quando saímos do banho quente e, por outro lado, esquentam rápido depois que mexemos com água fria"?
Não havia uma resposta clara sobre isso, ambos eram leigos. Mas a segunda pessoa formulou duas hipóteses com base em como ela entendia que o corpo humano funcionava e o modo como as trocas de calor eram processadas. Sua primeira hipótese estava relacionada à percepção. Como a mão estava mais fria até que o ar circundante, parecia que o aumento de temperatura era mais rápido, quando apenas a sensação é que era. O mesmo pensamento, de modo inverso, poderia se relacionar com o banho quente.
A outra possibilidade estava relacionada ao modo como o organismo funciona. Quando a temperatura cai, o organismo direciona seus esforços para manter aquecidos e com boa circulação os órgãos vitais. Desse modo a pessoa vai esfriando a partir de suas extremidades e áreas menos sensíveis. Quando alguém está no banho há um aumento total de temperatura, que inclusive deve ser compensada de algum modo pelo corpo, ou seja, o corpo deve entrar em algum modo de compensação. O calor é do chuveiro, o corpo estava em equilíbrio, ou alcançou esse equilíbrio durante o banho. Quando a pessoa sai do banho, imediatamente o ambiente vai ter um efeito sobre ela, e não é possível manter o calor extra, pois o corpo trabalha dentro de uma faixa de temperatura, mais ou menos calor sempre exigirá compensação. Por isso as mãos ou pés esfriariam rápido, pois a ação do ambiente era tal que exigiu o controle dos órgãos vitais.
Por outro lado, no caso da água fria, temos um desnível artificial, não foi o corpo que direcionou o calor para dentro. Desse modo, quando a fonte artificial é afastada, o corpo inicia imediatamente o processo de equilíbrio fazendo com que as mãos aqueçam mais rápido. Sem contar que por causa da atividade física envolvida, lavar louça, por exemplo, já havia um excedente de calor interno.
Obviamente essas são apenas hipóteses, mas baseadas no conhecimento de quem tentou fazer a explicação. Nosso conhecimento é limitado, e na maior parte das vezes nossas hipóteses estão erradas. Nós somos muito bons em reconhecer padrões, mas somos melhores ainda em ver padrões onde eles não existem. Um exemplo disso é reconhecer formas onde elas não existem, a pareidolia.
De qualquer modo, mesmo o mais ignorante de nós, é um "hipotetisador" por natureza. Isso não é arrogância, pelo contrário, é uma prova de amor pelo que somos e o que temos. Quando criamos hipóteses não estamos apenas especulando, estamos na verdade sendo aquilo que somos, ou aquilo para o que fomos destinados a ser. Isso é o que nos caracteriza como seres pensantes.

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