Uma lágrima rola pelos sulcos da face enquanto imagens de um outro tempo inundam a mente cansada. O pavilhão lotado de rostos e os rostos de sorrisos. Tanta gente diferente todas as noites e a alegria renovada a cada encontro! E as crianças? Ah! As crianças! Tão inocentes, tão sinceras! Só cria nas gargalhadas das crianças e nos adultos apenas quando suas máscaras deixavam sair as crianças presas desde o fim da infância. Aqueles foram bons tempos, tempo difíceis, mas cheios de satisfação. Fazer o que se gosta e gostar do que se faz é lá um tipo de sacerdócio, fazer os homens gargalharem e as mulheres segurarem com força os ombros dos companheiros, presas no encanto do riso.
Fizera da alegria seu sacerdócio, e a cada encontro consagrava diante da sua congregação a hóstia da felicidade travestida no deslindar do grotesco, o grotesco puro, daqueles que se encontram apenas nos sonhos mais doces das mais doces criaturas!
Mas os fieis foram rareando, conforme a vida foi ficando mais fácil e estranhamente mais complexa. Agora o riso empacotado vinhas aos borbotões enlaçado nos elétrons que atingem as telas que iluminam de azul as janelas de quase todos os lares.
Alguns saudosos da alegria pura, daquela não empacotada, da alegria "orgânica" ainda davam por lá as caras, mas eram caras silenciosas, marcadas pelo farfalhar contínuo das folhas, das pilhas de folhas de papel e dos monitores infalíveis dos computadores.
Mas chegou o dia em que nem mesmo um desses assistentes nostálgicos, gente que busca os prazeres da juventude sem, contudo, sentir mais seus sabores, deu as caras. Quando esse dia chegou, as luzes já tinham se apagado e os bancos, em outro tempo belamente estofados, exibiam apenas o rubor violáceo do antigo vermelho adornados por rasgos cada vez maiores.
Às lágrimas seguiram-se outras, e as mãos trêmulas apertaram com mais força o cabo da bengala antiga, feita de uma madeira rara, e com passos lentos ele foi para trás do palco. A mão alcançou uma corda e as cortinas caíram pela última vez, ocultando das cadeiras vazias aquele velho e esquecido palhaço.
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