Sob
as luzes da rua eu caminho como alguém que procura
Mas
é só como alguém que procura, pois eu nada busco
Ainda
há pouco a chuva encheu a noite de aplausos
E
as nuvens pesadas enlutaram a face visível da lua
Nesse
espetáculo dos anônimos como eu teria
A
enfadonha tarefa de cavar nas sobras dos becos?
Dizem
que a chuva apaga as linhas negras escritas com dor
Nas
dobraduras escondidas da alma e dizem sem nenhuma ternura
Que
é dado viver e morrer sempre esquecendo
Pois
esquece-se para que de novo a mão das agruras nos faça sofrer
E
de novo, como insetos fascinados pela luz, nos entreguemos como
Da
primeira vez aos gritos contidos e aos lamentos
Sempre
sofrendo e sempre esquecendo para de novo sofrer
Mas
essa é uma visão muito pessimista até para mim
Que
me escondo em mim mesmo e desfruto das palavras que digo
E
dos sonhos que vou construindo pelas tardes em que trilho meu caminho
O
mundo aquece-se nas casas cheias de gente e luzes
Mas
eu caminho só, alheio ao assovio frio do vento
E
ao vozerio incompreensível da multidão
Eu
sei que tem que ser assim, que alguns são feitos para a matilha
E
outros para solidão das noites e dos dias.
Até
descobrir isso a gente caminha sem sentido e sofre
Mas
então a luz se afasta e o que era eco e confusão
Se
torna um sussurrar de vozes caladas desde que o sol
Encontrou
no céu as bases que formam o firmamento
No
silêncio eu me encontro comigo mesmo
E
nas sombras deslizam as formas etéreas da minha natureza esquecida
E
já não me importa que não me entendam
Ou
que tentem descobrir na minha fraqueza alguma força
Para
fazer dela uma ignóbil energia de egoísmo e autoafirmação
Eu
caminho acompanhado, e ainda assim sozinho
De
dia e de noite eu dedilho a harpa do pensamento
E
vou fazendo do caminho pedregoso, com ou sem chuva,
Uma
estrada cheia de riquezas e inteiramente segura...
Pois
o meu destino eu mesmo escolho!
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