domingo, 3 de maio de 2015

Sob as luzes da rua eu caminho como alguém que procura...

Sob as luzes da rua eu caminho como alguém que procura
Mas é só como alguém que procura, pois eu nada busco
Ainda há pouco a chuva encheu a noite de aplausos
E as nuvens pesadas enlutaram a face visível da lua
Nesse espetáculo dos anônimos como eu teria
A enfadonha tarefa de cavar nas sobras dos becos?

Dizem que a chuva apaga as linhas negras escritas com dor
Nas dobraduras escondidas da alma e dizem sem nenhuma ternura
Que é dado viver e morrer sempre esquecendo
Pois esquece-se para que de novo a mão das agruras nos faça sofrer
E de novo, como insetos fascinados pela luz, nos entreguemos como
Da primeira vez aos gritos contidos e aos lamentos
Sempre sofrendo e sempre esquecendo para de novo sofrer

Mas essa é uma visão muito pessimista até para mim
Que me escondo em mim mesmo e desfruto das palavras que digo
E dos sonhos que vou construindo pelas tardes em que trilho meu caminho
O mundo aquece-se nas casas cheias de gente e luzes
Mas eu caminho só, alheio ao assovio frio do vento
E ao vozerio incompreensível da multidão

Eu sei que tem que ser assim, que alguns são feitos para a matilha
E outros para solidão das noites e dos dias.
Até descobrir isso a gente caminha sem sentido e sofre
Mas então a luz se afasta e o que era eco e confusão
Se torna um sussurrar de vozes caladas desde que o sol
Encontrou no céu as bases que formam o firmamento

No silêncio eu me encontro comigo mesmo
E nas sombras deslizam as formas etéreas da minha natureza esquecida
E já não me importa que não me entendam
Ou que tentem descobrir na minha fraqueza alguma força
Para fazer dela uma ignóbil energia de egoísmo e autoafirmação
Eu caminho acompanhado, e ainda assim sozinho
De dia e de noite eu dedilho a harpa do pensamento
E vou fazendo do caminho pedregoso, com ou sem chuva,
Uma estrada cheia de riquezas e inteiramente segura...


Pois o meu destino eu mesmo escolho!

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