quarta-feira, 22 de abril de 2015

Eu voltei.

Oi! Eu voltei, eu te disse que voltaria. Faz tempo que você me pedia que voltasse a escrever. Eu te disse que não poderia escrever mais por questão de economia. Foi nosso último encontro, à beira do lago, naquele dia brilhante e azul de um janeiro inebriante. Um janeiro cheio de desejos, e desejos são apenas delírios de uma satisfação que não existe. Que não existe ou que nunca existirá. É o jeito que arrumamos para não enlouquecer de saudade daquilo que nunca tivemos. Você lembra? Andamos às margens do lago, pelos cantos dos olhos eu via, e sentia, o vento acariciando seus cabelos. Eles dançavam enebriados pelo ar, e a luz, essa garota enxerida, encontrava um caminho entre eles. Ela tornava sua pele alva, e quase apagava de você aquele peso que trazia na pele e nos olhos. E ainda assim eu não sentia vontade de te tocar, aquela nossa pequena distância era toda proximidade que eu podia suportar, eu sempre fui assim, tenho meu próprio mundo, e nele só há lugar para mim. Lembra, você parou e me perguntou com esses seus lábios felizes e inocentes quando leria algum dos meus textos. Por um momento fiquei realmente surpreso, até olhei fundo nos seus olhos, então a realidade me abateu como a chuva pesada de Setembro caindo no telhado da minha avó, e eu ri. Gargalhei como se não houvesse amanhã, nem hoje, nem nunca. Mas você não se moveu da sua aura de ingenuidade e continuou esperando minha resposta. O que eu te diria? Que mentira eu inventaria? Então pensei na maior das mentiras, essa a que chamamos  "verdade". Não o faço por economia, foi o que eu disse, o mundo está aí cheio de bons livros, há milhares deles esperando pela sua paixão, pelo encontro suave com seus dedos no virar das páginas e dos seus olhos correndo como dois meninos saudáveis pelo campo. Há tantos autores mortos quanto não os há vivos, e todos eles esperam a redenção pelos teus olhos e o céu no emaranhado que escapa dos teus lábios após o giro prazeiroso -existe isso?- da tua língua... Eu dizia, e a cada palavra um sorriso de escárnio escapava entre minhas palavras, escárnio de mim mesmo. Mas o meu discurso zombeteiro não foi suficiente, e me vi isolado entre a minha dor, a minha solidão, e as lágrimas que suaves escapam dos teus olhos enlutados...Não houve mundo para me conter, e o meu mundo, esse emaranhado de retalhos e mentiras, desfez-se num turbilhão de incongruências, num farfalhar ininterrupto de desculpas. A tarde esvaiu-se lastimosa, e a luz, tão penetrante, encolheu-se até encontrar nos vãos as sombras. Calei-me, como haveria de calar. Mas o meu silêncio pouco podia diante da torrente de lágrimas, e de razões não pronunciadas, que me batiam as faces num ponto e noutro. Foi por isso que fugi, depois de ter feito aquela estranha promessa. Eu disse que voltaria, e voltei, como você pode notar...eu só não esperava que as nuvens viessem encobrir a estrela que você um dia foi, e nem imaginaria que as lágrimas que agora inundam a terra seriam as minhas. Pois eu nunca estive preparado, eu não poderia recuperar a coragem e voltar, para me encontrar por terra escrevendo essas letras insanas em frente a uma fria e muda lápide...

Nenhum comentário:

Postar um comentário