A pergunta foi direta:
-Por que você anda tão sumido?
Ele olhou para algo que se perdia no horizonte, como se buscasse uma imagem da memória, como se longe houvesse algo que por um bom tempo o iludira, por fim respondeu:
-Ando longe das minhas antigas ilusões, ando perdido nos meus pensamentos, ando por lugares que apenas eu posso andar. Por um tempo me iludi, e por um tempo ainda maior tentei transformar a realidade naquela ilusão que se esvaía entre meus dedos. Mas a verdade, cruel e transformadora, me atingiu como um soco e não pude mais negar as coisas como são. Entendi por fim a minha escravidão e o pequeno valor que eu tinha diante de tudo isso. Foi terrível, foi como morrer.
O outro interpelou:
-Tudo se foi, acabou?
-Não! Nunca! O fim sempre encerra em si as sementes do recomeço. Se a gente não desiste, se a gente acredita no poder que Deus nos dotou de se reinventar, de ir sempre além, e se não perdemos a fé em nós mesmos ainda podemos muito mais. Só não voltamos pelos mesmos caminhos, nem acreditamos nas mesmas palavras de antes. Morro, é verdade, mas renasço sempre melhor. Eu estou vivo e, amigo, olhe só o horizonte se abrindo para mim. Há tantas coisas por aí, tantas possibilidades no mundo quando a gente está vivo...Eu só preciso andar!
E andou...
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