sábado, 26 de setembro de 2020

A Goteira

 A goteira na pia da cozinha

Marca seu passo ritmado
Um tic, e um tac dentro de mim
Meu coração tem cem mil válvulas
Há uma parede entre nós, tijolo concreto e tinta
Eu vejo a gota surgir da boca fria
Estica-se no espaço e alonga-se caminho abaixo
Tac, tac, tac... tum... a gota desce meu rosto
Num caminho sinuoso entre bochecha e nariz
E bate no fundo da pia
Como um trovão sem raio no escuro
Escuto meu coração, mas ele não me escuta
O pingar continua na cozinha
Não há maneira de fechar essa torneira
De água doce e salgada, tum
Eu ouço a água na pia, e o motor da geladeira
E cães que ladram longe dentro de mim
Para a moto que passa com seu escapamento
Retumbando na minha cabeça, tic
A gota bate na pia marcando as horas do relógio
Na parede, que gira, e cria outra gota que desce
Pela minha face fria...tum.

2 comentários: