domingo, 14 de maio de 2023

Uma folha no outono

No outono as folhas caem

E dormem na terra  preparando o dia de uma nova geração 

Os olhos como folhas distantes 

Ora em mim,  ora no teto

Ora num objeto invisível ou

Numa realidade além daqui 

"Eu estou morrendo" 

Colhi aquilo em silêncio 

Como um fruto cuja cor não me agradava

Lavado com águas que fluíam

Da fonte da minha alma

Quando as folhas amarelam, você sabe que elas logo caem

Elas já não pertencem à árvore 

Mas ainda não se entregaram ao solo

"Massageia as minhas costas, sinto dor"

Como pode árvore com casca tão lisa? 

É a superfície da folha

Numa noite ela gemeu

E seu talo rompeu-se 

Dando à folha um minuto eterno 

Ela desce, flutuando ao vendo

Como uma ave, em círculos

Suave, sem nenhum lamento

Da árvore separada da seiva da vida

No ar como um ser que cavalga o vento

E um suspiro, o último

Depois de uma noite agitada

Reguei aquela manhã com lágrimas 

Quando a terra recebeu por fim

Aquela folha da qual o vigor da primavera e o calor do verão se afastaram

Fez-se inverno

E o solo a acolheu, não como folha

Mas como algo que era seu

O pó volte à terra, como era

E o Espírito a Deus 

E assim você se foi, mamãe, 

Para de folha finalmente se tornar

Flor e estrela no céu 

A sua dor terminou

O seu fruto prospera.

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