domingo, 4 de junho de 2023

Prisão sem Grades

 No dia em que nasceu

Teria alguém dito ao furtivo

Menino na sua aurora

A cor cinza do seu ocaso? 

O fim que veio com o início

E que o acompanha

Assim são certos signos

Que fazem de uma pessoa

O peso vivo do fim

Que ainda não veio

É assim que se morre 

Todo santo dia

Porque esse menino

Como tantos outros

Não pode fugir ao seu

Destino

Mas o destino não existe

É palavra que inventamos

Para justificar as desventuras

Disse o sábio: 

"Viver é sofrimento"

Como se morrer fosse alguma coisa

Viver é viver e só isso

Um campo em que plantamos

As sementes que temos

E às vezes, mas só às vezes, 

Colhemos

Noutras a tempestade nos leva

Mas as sementes dormem

Seguras sob a terra

Diferente desse menino

Fruto de semente indigna

De onde? Quem sabe? 

Sina dos bastardos e das sementes 

Sem procedência 

Mas há delas que abundam 

Foi assim com ele

Mas ele mesmo percorreu

Seu campo com sua sina

Assinalada bem fundo 

Na sua consciência: 

"Não sou nada" 

E era tanto. 

Quem poderia lhe dizer isso

Que ele acreditasse? 

Muitos disseram realmente 

Mas ele estava preso em prisões 

Sem grades. 

E viveu sempre à luz do seu último dia.

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