domingo, 23 de abril de 2023

No limiar eu caminho

 No limiar eu caminho
Como um viajante sem destino
Porque não procuro
E ainda assim busco
Não algo de que possa me apossar
Mas um estado que já tenho
E que perco se me perder
Eu olho para fora
E vejo maravilhas e beleza
Assim como a noite fria da alma
E disso me liberto para que
Conquistado não seja conquistável
Ouça, não é o vento que sopra
É a mensagem cavalgando uma voz 
Cujos cascos ferem sem furor
Cada espaço vazio da pele
Eu olho para dentro
Ignoro tudo que perco ao reter
E deixo ir como um pássaro liberto
O ser que fui
Para que livre deixe
O que serei encontrar no agora
O meu vir a ser.  
Olho o infinito escondido
Na concha de um caracol
Migrando vagarosamente pela
Pétala de uma flor
O mar sopra, o vento bate
A rocha flui e o fogo
Deixa-se estar estático
No meio lá está
Deus, o nada e o choro
De uma criança 
O ar é frio, e dói
E a luz fere como uma faca
Lágrimas e vida
E mais Lágrimas diante da lápide 
Ouça, vou contar um segredo 
Que só Deus o retivera até
Que Ele deixou que voasse
O dia declina e o sol já se pôs
Todos os insetos 
Já sabem, assim como as pedras
Que cantam dia e noite essa canção
O que será, já foi
E o que foi aguarda
No mesmo rastro molhado
Na mesma Pétala da flor
O mundo já acabou e morremos todos
Na escuridão total jazemos
Até que haja luz
Eu caminho no limiar
E todos os meus sonhos
Caminham comigo
Não tenho destino
Porque sou meu destino
Deus é meu companheiro 
E só temos um ao outro
Nessa jornada
E ainda assim caminho sozinho 
Estarei em casa antes mesmo de
Lá chegar
Mas a noite é fria e silenciosa
E eu caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário