terça-feira, 18 de abril de 2023

Um poema

Quando era jovem
Eu vivia da revolta da minha própria ilusão 
O mundo era pequeno e eu grande
A ponto de consumir o bom senso 
No altar da ignorância 

E ignorante da minha insignificância
Eu prossegui insignificante 
E agressivo tentando pôr no mundo
Uma visão que lá não cabia
Nem cá tinha alguma substância 

Então fui atingido pelo chicote
Que vergasta as costas de quem vive
Na miséria 
E humilhado caí aos pés de um ídolo 
Que eu julgava grande
Mas era ainda,  como eu, insignificante 

E o erro ainda era algo mais
Que o que eu tinha antes
E munido de algum método
Acreditei que um objetivo melhor
Agora guiava meu destino

Mas o chicote que o destino me legara
Nas minhas carnes vergastava inclemente 
Dando-me ainda daquele antigo furor 
Um pouco de audácia defensiva
E um tanto de imprudência 
Inconsequente 

Dando passos que minha classe e nascimento, 
Eu bastardo e miserável esquecido,
Não permitiam a quem um selo não fora
Colado
Fui duas vezes ainda mais castigado
E estive novamente de cara
Com uma miséria mais abjeta

Agora por nova doença da minha alma
Se antes ignorante da minha ignorância 
Agora sujeito consciente, mas ainda
Ingênuo sobre as coisas do mundo
E o interesse das pessoas

Antes miserável no ser e na aparência
Agora por não estar mais
Onde os olhos diziam que eu deveria estar
Não entre sábios respeitados
Mas na sarjeta 
Colhendo larvas de insetos
E comendo do que cai
Da mesa dos mestres.  

Ando como os cães que já não
Querem o afago de qualquer transeunte
Arredios, cheios de feridas
No corpo e na mente
Volto ao antigo instinto
E amargo vou 
Deixando pelo caminho
O pouco de sonho que ainda tinha 
Na juventude.

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