sábado, 9 de fevereiro de 2013

Lágrimas na janela




Quando eu era criança
Eu ficava olhando a chuva pela janela
E imaginava que cada gota
Era a lágrima de uma outra criança
Que chorava numa outra janela.

As lágrimas caíam e rolavam pelo asfalto
E todas as histórias que elas traziam
Iam perder-se nas águas sujas do esgoto

As crianças choram na Terra
As incertezas de um mundo inacessível
As crianças choravam nos ares
Pelas crianças perdidas na Terra...

As lágrimas molhavam a Terra
Minhas lágrimas molhavam meu rosto
Porque eu não sabia
Eu não sabia porque
Uma criança inocente tinha que sofrer.

As gotas da chuva desciam pelo vidro
Formando um caminho sinuoso
As lágrimas desciam pelo meu rosto
Levando com elas dores e desgostos...

Eu perguntava às crianças de cima
Se no mundo delas também havia adultos
Indiferentes, duros e preocupados
Com um monte de coisas que criança não entende
E nem sente vontade de entender

Elas nunca respondiam
Embora eu achasse que sim
Pois sempre que o céu se mostrava cinza
A Terra era inundada de suas lágrimas infantis...

Agora sou velho
E ainda olho a chuva pela janela
E ainda choro com ela
Mas não pelas coisas que não entendo

Eu choro aterrado pelo adulto
Que aquela criança chorava
O adulto que me tornei

E as lágrimas que por mim
Correram pelo asfalto...

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