sábado, 26 de janeiro de 2013

O Dia e a Árvore na Curva do Rio



Um dia, esperei por um dia,
E o dia veio sem que eu percebesse
E não haveria como perceber
Pois trouxe o que eu não esperava
Acordar não é estar satisfeito
Acordar é saber-se insatisfeito
Com todas as mentiras e belos vetos
Que nossos sábios antepassados nos legaram
Na curva do rio existe uma árvore
Que floresce e frutifica quando vem o Dia
Mas seus frutos são amargos
E causam mais dor que satisfação
Sob esta árvore dorme uma antiga mensagem
Que desconcerta o mais otimista dos homens
Pois diz que é melhor estar acordado
E com o ventre amargo
Do que dormir embalado em falsidades
O realista passa e não se perturba
"Eu já sabia" e continua seu caminho
Muitos sonhadores se lançam ao leito do rio
Fazendo da curva um vasto cemitério
Não suportam a dor da verdade
Nem perder num golpe todas as suas belas certezas
É duro saber que não entende e ver o mundo
Insurgir-se contra os velhos delitos teleológicos.
Nas folhas da árvore busquei o sentido
E colhi delas a incerteza nas palavras
"Não há propósito"
Então o dia me trouxe o que não busquei
E pela primeira vez percebi
O vasto e maravilhoso Universo que se
Manifestava na vibração telúrica
Das belas planícies da Terra
Defraudadas diante da rústica imaginação humana.
Observei e sorri e sorrindo
Comecei a viver.

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