domingo, 17 de maio de 2020

Ativismo e Politização

Parece que agora ativismo virou sinônimo de politização. Tem que ser ativista o tempo inteiro.
Só que inverteram a coisa toda. A politização deveria preceder o ativismo. Uma pessoa politizada é aquela consciente de seus deveres e direitos e que entende a importância de sua participação ativa numa realidade democrática. Já ativismo é agir, militar, por uma causa.
O fanatismo é fruto do ativismo sem politização. O ativismo num país como o nosso deve se dar dentro do jogo democrático e com respeito a ele. Nesse sentido, a politização é também a compreensão, ainda que rudimentar, desse processo democrático. Assim estar politizado implica aceitar que pessoas com visões diferentes de mundo tenham o direito de se manifestar.
A politização é a educação política, o ativismo político é a prática dessa educação. É claro que é possível negar o próprio processo de politização e defender absurdos no ativismo, mas nesse caso outros fatores entram em cena. Nesse sentido podem ser "indutores" a frustração com a democracia, interesses criminosos que se mascaram como moralismo, confusão entre aspirações espirituais e as aspirações políticas, a subjetividade da pessoa (apego ao próprio ego, etc).
A escola deveria nos fornecer o "aparato mínimo" para uma boa politização. Ou seja, criar em nós a consciência de que devemos ser cidadãos ativos e desenvolver nosso senso crítico para que possamos ou não guiar nossa politização num certo sentido ideológico.
Como ela não consegue fazer isso, especialmente por causa do foco conteudístico, esse espaço é ocupado por diversos atores sociais, especialmente os ligados à fé. É na igreja, seja ela a instituição, seja a família no processo de "catequização", que recebemos nossos valores sociais. Assim vamos atuar no mundo com as ferramentas que temos. Essas ferramentas são nossa base conceitual mínima, aquelas diretrizes que internalizamos e que passam a ditar a forma como interpretamos o mundo e atuamos nele.
Só que a igreja não tem exclusividade nisso. Diversos grupos utilizam o mesmo processo catequético, despido das aspirações espirituais, para formar seguidores e militantes. Embora o discurso seja diferente, o resultado vai ser o mesmo, fanatismo que não permite o diálogo e que se torna, nos seus discursos, uma expressão de completa verdade no mundo. Ou seja, forma pessoas que possuem uma lista de crenças, um ideal de verdade, um discurso e ação fortes, mas ao custo de qualquer sombra de "autocritica", embora tenham a ilusão de serem elevados e terem um senso crítico apurado (quando é para julgar seus adversários).

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