Numa estrada ladeada por uma vegetação triste e poeirenta, eu busquei numa pedra solitária apoio para meu corpo cansado. O pó se apegava ao céu da minha boca. Reparei na estrada vazia, ouvia o zumbido de um bando de moscas, a vida e a morte se tocavam. O calor ia tornando as imagens turvas, as vigas da cerca iam se dobrando sobre a estrada. Reparei melhor naquela estranha vertigem, comparei com a vista da minha mão, mas nada de anormal eu via. Num desses momentos, levantei o rosto e não havia mais estrada. O calor se fora e um frescor acariciava meu rosto. Imagens se formavam. No ar pareci divisar um menino correndo por um capinzal muito verde. Eu era aquele menino. Logo ali me vi de mãos dadas, já não era menino. Um pouco além uma visão mais antiga, estávamos todos à mesa com mamãe, que se fora. Ali um dia feliz, aqui um triste. Mas tudo como fora, como minha memória me dizia. Mas ao lado de cada uma daquelas imagens havia tantas outras das coisas que podiam ter sido. Uma via formava infinitos ramos, e cada um deles outros tantos. Eu me vi passeando por vidas que nunca tive. Uma escolha diferente, mesmo que só um pouco, implicava numa quadro totalmente novo. Conheci filhos de amores desconhecidos, e cada um deles tão vivo como se as coisas estivessem acontecendo naquele mesmo minuto. Aqueles eram futuros possíveis de um passado morto. Mas e o futuro desse agora? Levantei os olhos e vi o que logo seria, mas a imagem era triste. Logo, porém, ela se desvaneceu. Sem entender, busquei uma outra e a percorri até o momento em que algo me desagradara e o mesmo efeito se fez. Assim vez após outra as imagens iam sumindo. Por fim entendi. Cada vez que olhava para uma cena que trazia algo ruim eu decidia não seguir aquela escolha. Se o passado era feito de linhas inequívocas, com caminhos que poderiam apenas ter sido, o futuro era sempre desconhecido. Naquele caso se viam as vias alternativas porque se via a principal, aqui não havia principal e tudo era alternativo. O futuro alternativo era destruído pelo meu olhar. Não havia como ter certeza, como escolher o melhor, qualquer escolha sempre levaria a algum desenlace desagradável e então tudo evaporaria. Então esse é o destino? Uma malha infinita de encontros e desencontros. Então olhei ainda mais longe e vi que tudo convergia para um ponto. Não importam que vias eu tomasse, que lindas escolhas fizesse, aquele ponto estava lá. Um destino para todos os caminhos. Era o fim de todas as jornadas. Havia caminhos longos e curtos. Mas o destino era o mesmo. O dia ia declinando, o calor já não era tão sufocante, juntei as tralhas da vida, aprumei as pernas cansadas e firmei os passos naquela estrada empoeirada.
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