quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Um homem caminha...

Um homem caminha, cabeça baixa
Mãos nos bolsos, coração nas tripas
"Quem ainda espera algo da vida?"
Os passos marcam dias nas pedras frias
Dos paralelepípedos num desritmado
Som batido nas poças d'água
A fortuna nunca veio e já se foi
O sucesso como um pervertido de sobretudo
Mostrando seus talentos escassos
A coradas senhorinhas que alimentam os pombos de qualquer Praça. 
Já foi jovem e ainda não é velho
Mas perde-se num limbo em que sofre as dores dos velhos num coração cheio de sonhos de criança. 
O dinheiro mal paga o papel em que foi impresso
As calças não aguentam mais tanta costura
Dentes se equilibram evitando a comida dura
Suas coisas arriam sob o peso da entropia
Pais arruinados e doentes, filhos sem muita perspectiva
Um pé deixa a cama com a cabeça ensaiando seu retorno
O homem mira o céu,  imagina o oceano
O horizonte tem nome,  decadência. 
O homem caminha sob o peso do mundo
E pensa no ridículo da existência
Nada é justo, mas o que é injusto nas pedras lançadas sem precisão ou objetivo? 
A ironia só existe projetada por uma mente que ainda teima com o sentido.
O homem em tudo abatido vai aos poucos esboçando um sorriso
"Quem disse que seria diferente?"
Ninguém que tivesse autoridade para dizer.
É tudo tão gratuito, tão desprovido de sentido. 
O homem não resiste e o riso contido
Explode numa gargalhada desvairada
O homem rola na lama, o homem segura a barriga
O homem é o objeto do olhar inquisitivo
De todos os que são incapazes de entender a piada...
De saber que ela existe.

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