quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Quando a Gente se Perdeu.

É poema, mas podia ser balada. Vamos cantar a morte das nossas aspirações de juventude...
Camarada...que tempos foram aqueles em que a gente se perdeu?
Eram dias de neblina, ou seriam cortinas de fumaça?
Vivemos os tempos sombrios, lutamos com demônios invisíveis, sonhando com amores ausentes..
A gente era bobo e inteligente, curtia música ruim, tomando cachaça de canudo num abacaxi.
A gente nem gente era, não escovávamos os dentes, não tomávamos banho
A gente não fazia a barba ranhenta, piolhenta, e limpava as mãos sujas nos velhos jeans rasgados
A gente pregava a revolução contra o velho capitalismo decadente, contra a classe política corrupta, contra a massa ignorante trabalhadora serviçal que batia ponto na firma
Que batizava o filho da vizinha, e a cama da vizinha... que dizia que o padre dizia que não se devia perder uma missa
A gente tinha uma nova doutrina, rabiscada em velhos cadernos, com garranchos que hoje não entendemos..



Me ensina, amigo, a velha dialética rasgada em versos anarquistas
Eu quero o amor, o fervor, o fuzil e a lança
Eu quero o canto das minas
Curvilíneas, de cabelo azul
Safadas retumbantes voando nos ares
As esteiras de todos os tanques
Sem manchas nas mangas da minha jaqueta vermelha..

Minha velha mãe achava que eu estava sozinho, minha mãe me deu um cachorrinho
Quem quer saber do seu Poodle quando eu tenho o meu Proudhon?
E se a gente soubesse, camarada, que trocaríamos o abacaxi por cerveja e linguiça, o velho jeans surrado por roupa de defunto? A gente é pai de família, com título de eleitor, semana que vem tem matrícula, o colégio, a academia, o enterro da minha tia e belas flores no tampo brilhante da formatura , vem dançar, é noite, a valsa das filha desses sonhadores..
Trocar o carro, mandar fazer a cozinha, o chuveiro queimou, não esqueça a taxa de lixo, é eleição, temos que votar contra os corruptores. Quanto sai um cento de coxinha? Morreu o Zé, o Chico, ouço música sertaneja, samba e popular brasileira.
E vemos nas tardes de domingo, nos círculos dos amigos, na teve umas belas gurias, que roupas, que curvas, que pernas, companheiro!
Que será de nós, camarada, quando nas brumas da morte encontrarmos a neblina em que moram os meninos pirados que éramos? Que lhes diremos quando nos perguntarem o que fizemos de seus sonhos? Teremos coragem de dizer que nos tornamos tudo aquilo contra o que eles lutavam?
Que tempos são esses, camarada, em que a gente se perdeu?

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