sábado, 9 de novembro de 2013

Vida de probabilidades e imprevisibilidades

DIZEM que a vida é previsível, que certos efeitos seguem determinadas causas sempre. Se eu jogo um objeto para o ar ele cairá em seguida.

Isso é verdade quando falamos de leis naturais, se bem que mesmo elas tem suas exceções, suas variáveis...

Entretanto, quando se fala em vida, parece que não é sempre assim. Certos efeitos variam de causas desconhecidas, ou pontos de origem divergem além daquilo que nossa mente pode calcular como "certo".

Me parece que isso acontece porque as variáveis de um ato não dependem só do sujeito produtor desse ato, mas variam na exata proporção de quantas são as vontades que atuam sobre esse ato ou sofrem seus efeitos.

Em miúdos: eu tomo uma decisão e ajo de acordo com isso, ou seja, eu faço algo que manifesta meu estado mental, minha turbulência emocional. Entretanto o meu ato pode ser "isolado" no sentido em que as pessoas poderão sofrer suas consequências sem, contudo, poderem alterar o FATO do ato em si. Por exemplo, eu posso decidir dar uma martelada no meu relógio (eu tinha algo bem mais drástico em mente, mas evitei as leituras) e fazê-lo em pedaços. As pessoas que souberem que fiz isso podem até tentar consertar o estrago, mas não podem alterar o ato. E se eu tiver conseguido (contra minha natureza) ser "EFICIENTE" na martelada, dificilmente meu ato será corrigido.

Por outro lado eu posso decidir pedir demissão no meu emprego, mas para isso, para a finalização desse ato, eu preciso da cooperação de outras mentes humanas e da anuência de suas vontades. Não é um ato isolado. Eu preciso comunicar meu chefe disso, mas ele pode considerar que eu tenho potencial dentro da empresa e ser bem convincente nisso a ponto de me fazer mudar de opinião. Ou minha esposa pode me ameaçar com algum tipo de retaliação (algo em que as mulheres são especialistas), logo, o meu ato, a princípio isolado, encontra VARIÁVEIS que alterar seu sentido original.

A maior parte dos nossos atos são desse segundo tipo, a máxima "ninguém é uma ilha" é verdadeira.

Entretanto, não existiria uma consequência sem um ato inicial. Você pode até não controlar o desfecho, mas isso não significa que você não seja responsável por ele, mesmo com o intercurso de mais pessoas, pois ele simplesmente não existiria se você não tivesse tomado tal e tal caminho.

Disso entendo que:

-Podemos planejar algo, mas isso quase nunca significa que teremos poder de controlar os meios e os fins derivados desse ato;

-Que a existência humana, no sentidos dos seus atos no mundo, é a função das vontades envolvidas nesse ato mais os aspectos puramente mecânicos do mundo;

-Que, apesar dos fatores fora do nosso controle, não podemos nos eximir das consequências, pois elas seriam diferentes ou simplesmente não existiriam sem a nossa ação inicial;

-Que o egoísmo é uma forma pouco sútil de ilusão, pois a vida se insere no contexto da interação das múltiplas vontades. O ser humano é uma entidade social por essência;

-Que, se por um lado, somos sujeitos diretos de algumas ações, por outro somos agentes de DERIVAÇÃO da vontade de outros agentes. Ou seja, fazemos, mas recebemos também;

Uma conclusão: não vivemos uma realidade puramente determinada nem num mundo de vontades livres. Somos sempre a soma desses dois aspectos agindo num espectro amplo de probabilidades e consequências nem sempre previsíveis.


Eu decido, ajo, penso, mas até que ponto sou senhor do desfecho? Hei de me adaptar à realidade (na verdade nem posso resistir-lhe) e entender que projeto coisas, mas nem sempre concretizo esses projetos.

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