A madrugada
se foi, o sol está aí novamente
É um dia novo
e no entanto é o mesmo dia
Pois eu
atravesso os dias vivendo um só momento
Como se fosse
uma encruzilhada atemporal
Como se pode
sonhar quando já perdemos esse dom?
Quando nossos
sonhos são coisas fantásticas
Opostas ao
velho cotidiano da poeira e do vento?
Mas sonho,
dias e dias a fio sonhando
Com coisas
impossíveis, com imagens vagas e mistérios
Com gente que
não conheço em lugares inexistentes
Sonho em
mudar o mundo e mudando-o mudar a mim também
Para ser um
pouco menos verme, um pouco menos poeira
E ainda olhar
no belo espelho da vida
Sentindo que
vivi e fui mais que a poeira sob meus pés
E o verme que
corrói minhas entranhas!
Engana-se
quem pensa que sonho com bens
Casas grandes
com carros enormes na garagem
Ou ser
aclamado nas grandes festas como um
Grande homem
dessa ilusória sociedade
O caso é que
não sei sonhar com essas pequenas misérias
Todos os meus
sonhos são revolucionários
Em nenhum deles eu tenho mais que a roupa do corpo
E ainda assim sou a esperança de muitos
Que como eu rastejam na poeira da mera existência
Por que não suporto apenas existir
Não agüento a cantilena do ir e vir biológico apenas
Uma idéia me perturba
Ela diz que não ter nada é absolutamente mais
Do que ter tudo!
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