quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

La Petit Mort


Então, sentir o fluxo da vida, indo e voltando. Meu coração acelerado, e os olhos que não veem ninguém. Eu suspiro e sinto. Amor que não conhece quem não vê a vida inteira. E perdido como num relance, como se assim tudo fosse, verdadeiro panteísmo. Não há pensar na entrega, nem pesar, só o devir, ver antes com a sensação.


Ela embrulha o pão com carinho, como uma ama à criança. As mãos, finas, como canas na lagoa. Eu penso sempre nas mãos que não veem cor, mas que tem a cor sempre, a que me alegra, a que desejo.

Então vem de dentro, assim como um explodir sem explicar, quando se funde ver e sentir e o mundo vira uma massa incerta. E o tremor passa afligindo, tão bom...tão...

A mão trêmula, uma faixa clara e a vida pinga. Olho longamente a mão e a luva incerta, a luva que marca e é a marca, como na parede em frente. E poderia ser no teto, a pia. É uma base. Bases são amargas, deve ser, não sei, e há gente que gosta de amargor. Deve ser a luxuria que faz isto, não a mente, nem o gosto mesmo, mas é um satisfazer o que não pode ser satisfeito. Porque mal aquilo passa, assim que se refaz o corpo, renasce assim deste modo o novo desejo. O desejo sempre novo. Ele que busca a mão na padaria, daquela cujos olhos não conheço, mas imagino a mão aqui.

Então é deixar o indício na água, verter no esgoto a vida, como milhões descendo. La petit Mort! Sim, assim explica que a vida desce e é morte. Vida potencial, vida sem ao menos a imagem do ovo, porque a caverna não existe e o calor é um calor próprio, artificial. 

Já me fizeram sentir culpa, já me disseram que Cristo não fazia assim. Mas eu li que Ele era homem "sujeito" como nós. Se homem, paixão. É magnetismo e força. Não há quem se furte, mas eu, para mim, vivo furtivo. A pequena morte me levou a força vital. Não se faz isso por si, se faz, mas a carne exige outra carne. Mas que carne eu quero? Eu quero a mão sem olhos, a mão que imagino ir e vir.

E ele está ali de novo, o que me consome, então de novo. E penso, mas penso com dedicação na mão sem olhos...

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