sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Um Conto

‎...depois de muitos anos eu voltara ao lar. Parei inseguro no limiar daquele meu mundo saudoso sentindo o cheiro bom do bolinho de chuva e do café fresquinho...mas era apenas uma lembrança. Na casa esquecida apenas o pó habitava. Não havia risos nem brincadeiras...não havia crianças. 

"Entra meu filho, que coisa! Você está todo molhado, vai tomar um banho que depois eu te dou um pedação de bolo".

Mamãe...

"E então garoto, como foi a aula hoje?"

Papai, que saudade das nossas confidências.

Entro no quarto da minha irmã Lia, vazio, mas vejo ainda as prateleiras cheias de brinquedos...

"O nome dele é Teddy".

Alguém na porta.

"O senhor aceita a oferta de meu cliente?"

Claro-respondo amargo- não tenho como manter essa casa, moro muito longe.

Minha infância, meus melhores dias estão nessas paredes, rolando nus por esses cantos empoeirados.

"... um shopping center."

Como?

"Eu disse que vamos fazer um shopping aqui, com salas de cinema, você sabe"

Claro. Por favor... quero me despedir da casa.

"Certamente, estarei no carro, fique o tempo que precisar".

Olhei mais uma vez a velha sala, com todos os cheiros e memórias e, pela primeira vez em vinte anos, lágrimas tocaram o antigo assoalho enquanto eu vendia mais que um bem, eu vendia a melhor parte da minha vida.

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