quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sobre Meninos e Bolos.

Sobre meninos e bolos.

Na face daquele menino
Naqueles olhos negros sonhadores
Alheios aos fluir inconstante do mundo
Todas as maravilhas estavam à distancia de uma mão...

Pelas nuvens enlevado imaginava
Os castelos e gigantes e todos os seres fantásticos
Dançando uma música alegre
Tocada pelas estrelas...

E sob a sombra de frondosas árvores -levadas pelo progresso-
Entendia todas as múltiplas linguagens
Faladas por todos os espíritos que enchem as matas...

Correndo pelos campos com o vento na cara
E pulando nu nas cavas sem medo das sanguessugas
Era como um animalzinho, alheio, mas livre...

Pula cerca e estufa a barriga com pera, e uva, e mimosa...

Consegue ver num prato de arroz um banquete
Como é boa a comida temperada com imaginação.

Imaginava bolo e frango assado - que gostoso!
E comia tudo sozinho...

As vezes eu sinto muita pena dele
Nem sempre tinha o que comer
Andava maltrapilho e pulava como um grilo 
De escola em escola, sem muita ideia sobre educação
Nem sobre o que seria uma "família".

Ele amava seus heróis, os que conhecia e os que criava
Com seus traços estranhos em qualquer superfície disponível...
Neles via a justiça que lhe era negada nessa vida...

Ele não tinha pai
E quando lhe perguntavam dizia "não tenho!"
Maldade humana não entender isso.
"É filho do vento?"

Era, e da chuva e de todas as criaturas que se escondem 
Dos olhos insanos adultos...
Seus maiores terrores...

Mataram esse menino,
Um pouco por dia, de fome, de lutas
De abusos e desespero
De incompreensão, de desamor
De frio, dor e destempero...

Seus sonhos eram "besteiras"
E seus desenhos "preguiça"....

Disseram que para ele só o "trabalho"
E das mãos que esperava apoio recebeu
Um enxada e muitos labores que levaram 
O pouco que lhe restava

Da inocência restou apenas uma casca
Um adolescente amargo e revoltado
Sem educação, sem perspectiva, sem sorrisos
Sem jeito nesse mundo mau...

Com um dogma de vida: Maldito sou!

Não era, ninguém é...

Perscruto o céu com olhos indagadores
Consciente do fluir do mundo
Com todas as maravilhas à distância de um sonho
De onde paulatinamente vai renascendo
Aquele menino....

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