Sombras! Sombras que se evolam das poças de lama,
Me levem consigo para o mutismo filosófico da matéria
Tornem-se meu jazigo os ares pestilentos
E que sobre a pessoa que não fui desça o véu do esquecimento!
Todo valor é apenas um rótulo corroído
Como o sonho de um moribundo coberto de andrajos,
Ou a água negra que escorre das carnes em putrefação!
Pois o homem , esse ser fictício,
Não passa do aborto abjeto dessa tenue criação
Dos delírios de um nume louco e das fantasias
De um povo que não se permitiu a indigna extinção.
Assim esse grande mecanismo cósmico
Processa vida, pensamentos e sentimentos
Deixando que a mente obliterada da razão
Vague por ilusões e desejos até um fim amoral.
Sombras! Sombras! Não se evolem como etanol
Ao sol causticante do deserto!
Pois do meu lamento sobram apenas ruídos incertos
Se perco da vista o pouco que me sobra de intelecto.
Nas poças de lama jazem os esquecidos
Sem memória o sonho morre diluído
Na massa das oscilações terrenas
Pois o céu, o céu é para os escolhidos.
Ah Bandeira ! Como eu queria ser um pouco contigo
E cantar meus terrores em versos memoráveis
Para dizer como você que queria uma morte
Completa, definitiva,
Onde nem mesmo a memória de um dia ter estado vivo
Sobrasse ao sol deste limbo de crueldades!
Mas a nós, sombras elipticas, sobram as viagens
Numa terra seca, num mar de verde fel
Onde as ondas são cristas de amônia
E a chuva é uma saliva grossa de enxofre!
Sombras! Sombras que se evolam das poças de lama...
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