A porta está fechada, você pensa, naquele limiar sombrio
Há o silêncio, o silêncio gritante, as sombras se agitam
O céu rubro no ocaso, e as luzes que se acendem
Na cidade que não ama seus moradores
Houve um tempo, você pensa nos dias felizes,
Já não existe o deslumbramento das coisas simples
Nem a confiança de promessas a serem cumpridas.
Hoje você está nessa solidão da multidão alheia
Passam faces e não passa ninguém
Porque cada visitante é um desconhecido
Como um amigo que se perdeu na infância
Como um sonho na embriaguês
Como a vida que vai se esvaindo nas areias do
/tempo.
/tempo.
Um estranho você é, um estranho na própria casa
Você já não sabe quem são seus pais, irmãos e amigos
Nem seu velho pastor alemão balança a cauda para você
Ele nem mesmo late, ou mostra os dentes ameaçador
Porque você não existe, nunca viveu e já morreu.
Você sabe que não te espera uma bela lápide
Nem mesmo um túmulo adornado no dia de finados
Nada de "amado filho" ou "amigo saudoso"
Será na morte como na vida, esquecido.
Diante da porta você percebe porque ela continua fechada
Você sabe agora que perdeu a fé para abri-la
E pensando assim entende que nem mesmo há uma porta.
Todo o tumulto da frenética atividade humana é um
/murmúrio,
/murmúrio,
Indistinguível do latido do seu velho cão pastor alemão,
Porque tudo converge na direção insípida do nada.
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