sábado, 4 de fevereiro de 2012

O casco singra suavemente...

O casco singra suavemente as águas escuras
Enquanto a madrugada se esvai nos ponteiros
                                       [do relógio
Tão suaves são as ondas
Levemente agitadas pela brisa boêmia
Um metro e não vejo nada
Como se um passo adiante fosse o último
Como se as águas fossem a porta do abismo

Navego orientado apenas pelo meu coração
Que bate num compasso de tristeza e - mistério-
                                   [ESPERANÇA;

Acima nada, e abaixo só as águas negras
E turvas como sonhos de uma madrugada agonizante
Toco as águas com meus dedos ansiosos
De vida, de som, de fúria...

E busco a imersão completa na memória comum
na vala comum da humana espécie,
No trecho mais negro que se chama "esquecimento"

Mas eu sou o barqueiro e não Caronte,
Não haverá descanso como eu o vejo
Descanso de todas as minhas memórias e
                                     [MEDOS;

Aos poucos aquela escuridão completa vai
Se fazendo bruma e luz nas SPHERAS oníricas
Enquanto a proa recebe o acolhedor beijo das águas
                  [agora já não tão sombrias..

Era noite, e agora o vento traz consigo o canto
Dos pescadores "aprestando" suas naus "operosas"
Estou quase saindo,
Deixando aquela triste neblina...

Isaías Gonçalves

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