quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Ah, se fendesses os céus e descesses!


Ah, se fendesses o céu e descesses!
Verias como a rocha do meu ser jaz alquebrada
Sob a pressão da vida que tu me criaste
Que é menos pressão que a rocha é fraca
Clamo desde os meus abismos íntimos
Mas um abismo chama outro abismo
E o pouco, como grão, da ave enche o papo
Ao meu redor, tantas rochas como eu,
Me lançam, frias, o indicador
E eu me afasto, busco a solidão
A solidão me fere, a solidão não alcanço
Na dupla significação que me deixa perplexo
Em tudo somos abatidos, mas não destruídos?
Comi o pó no meu abatimento
Que se tornou pedra na minha contrição
Mas tua é a sabedoria, eu de ti nada posso
Questionar, se eu mesmo na minha campa
Criei carnes ilusórias nesses ossos
Ah, se fendesses o céu e descesses!
Verias chorar diante de ti em genuflexão
Tal miserável que mais miserável se faz
Ao ver tantos com menos ou mais
Andando com ar seguro e sem tribulação
Então, talvez, na tua infinita misericórdia
Me acolhesses em teus braços quais asas
“Estava morto e reviveu”
E eu na morte viveria uma rocha
Sem mãos cortada, de esquina, elevada.

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