quarta-feira, 2 de novembro de 2022

O Rei Ambicioso

 Havia um rei ambicioso que queria controlar melhor seu povo e também expandir seus territórios. Ele chamou os sábios do reino, mas nenhum deles lhe deu uma solução. Então o rei disfarçou-se e desceu para uma taberna. Lá encontrou vários homens ao redor de um velho marinheiro cheio de cicatrizes e muito respeitado. Esse homem viveu boa parte da vida pilhando os navios de outras nações, pelo que na sua própria pátria nunca foi considerado pirata. Os homens, cheios de cerveja, pediam conselhos sobre como vencer os inimigos, tratar as mulheres e os filhos e ser respeitados por seus vizinhos e parceiros.

O velho homem pigarreou e disse:
- Ouçam, vou contar-lhes um segredo, logo que me encham a mesa de boa carne e cerveja.
Os homens meteram a mão no bolso, mas antes que pudessem partilhar suas moedas, o rei chamou o taberneiro e lhe deu duas valiosas moedas de ouro aos olhos de todos e puxou uma cadeira para perto do velho homem. Os outros homens ficaram em silêncio, pois perceberam que ali estava alguém importante.
O marinheiro continuou:
- Pois bem, o segredo é ter uma boa corrente. A melhor delas é o medo. Seja temido e nunca mais precisará ser amado ou respeitado. O medo cega e submete os homens. Se não puder ser temido, utilize o medo de outros para seu próprio fim, mostrando-se como o escudo. Dos dois tipos de medos, o segundo é melhor, porque você sempre pode usar a mentira e artimanhas para aumentar o medo. Já o medo de si precisa sempre de mais severidade, e há limite para isso, pois a pressão pode trazer reação. Já o medo do outro é ilimitado. Nunca consegui tanto empenho da minha tripulação quanto nos dias em que lhes apontava os mastros com cabeças ao longo da costa. Cabeças que eu fazia crer serem de piratas como nós, mas que eram de vagabundos que eu pegava pelas ruas. O medo é o instinto mais básico e o homem fará qualquer coisa para estar seguro.
O rei gostou do conselho. No dia seguinte mandou matar todos os seus sábios em segredo e fez entrar uma carroça com as insígnias dos seus adversos e com as cabeças deles empilhadas nela. Em seguida fez do velho marinheiro seu conselheiro e convenceu o povo de que somente ele poderia livrar-lhes da impiedade de seus reinos vizinhos. Com isso o rei utilizou o medo para ser amado e pode aumentar seu domínio com um exército de fanáticos.
Mas seu domínio durou pouco, pois foi apunhalado pelo seu conselheiro que o vendeu para seus adversários.
Por isso os sábios dizem: aquele que confia no enganador para promover enganos será ele mesmo a vítima que queria fazer.

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