Os raios de sol passeavam pelos campos alegrando a beleza
das flores e o vento
Agitava os galhos das árvores onde pássaros ensaiavam o seu
sempre novo canto.
Era o começo da estação que embala a natureza com dias de
renovação
Era primavera e era, como deveria, o tempo em que o coração encontra
um caminho que o leva para junto daquilo que no mundo todo é só seu...
Foi assim, nesse dia ensolarado, que um seta invisível, sabe-se
lá por quem atirada,
Se a esmo, ou plena de alguma intenção
Ora, foi nesse dia que ela atingiu seu ainda virgem coração!
Foi amor?
Os passos iam juntos, mas as mãos, essas enchiam os bolsos e
os olhos
Fitavam com nenhum interesse o chão.
A estrada caminhava deixando os postes de iluminação
vagarosamente para trás
A poeira bailava pela rua e um buraco e outro deixavam-se
descansar sob as rodas trepidantes das carroças e o tamborilar das patas dos
cavalos com o ressonar do motor de alguma rara moto ou carro.
Foi quando por pouco levantou seus olhos e no bailar
impessoal da poeira
Viu algo dançando com o vento, uma forma vermelha que se
movia pelo ar
Como lençol muito pequeno ou, o que era na verdade, um
florido lenço.
Ele estende a mão entre a poeira, mas tudo o que vê lá na
frente é o rosto que olha desesperado para trás, em busca do lenço que perdera.
Foi amor?
O vento parou antes da curva, e a poeira deixou-se ficar
estática em pleno ar
Os raios do sol se inclinaram e as mãos já não cabiam no
bolso, assim como o coração no peito.
Seus passos trombaram neles mesmos, e as pernas tremendo
estacaram, cada uma alinhada ao seu respectivo ombro, quando a carroça em que a
dona do lenço viajava também parou.
Uma mãozinha delicada como a flor mais tenra tocada de leve
pelo farfalhar das asas de um cuidadoso beija-flor apoiou o corpo que se lançava
com vagar para fora do veículo, e um pé, depois o outro, por fim tocou o chão
poeirento.
E uma forma de anjo, de luz, fitou com olhos de céu o pedaço
inerte de pano que em sua mão descansava.
Foi amor?
Os olhos se encontraram na imensidão que foi aquele primeiro
encontro, no céu infinito estrelas brilharam mais forte, e no fundo da terra as
águas ferveram inundando o ar com um vapor escondido desde que o mundo era
jovem.
As aves pararam para ver, e os insetos dos campos enxamearam
por cima da cena. O rio deixou de correr e os corações bateram mais forte.
Uma era engoliu outra naquele primeiro olhar, e esse olhar
disse algo antes que os lábios da menina ensaiassem uma frase envolvida num
tímido sorriso.
A mão apontou o lenço e os olhos tímidos se desviaram para o
tecido que em suas próprias mãos ele sustinha.
Hesitou por um momento, olhou novamente para aqueles olhos,
e então, como se água gelada tivesse sido jogada sobre sua cabeça, deu por si
como um ser no mundo e entregou o lenço à mão que o recebia.
Mas sob o tecido as mãos se tocaram e ela, repleta da mesma emoção,
não teve pressa em cessar aquele toque, nem deixou que o sorriso deixasse de
adornar seu inesquecível rosto.
Alguém chamou-a de dentro da carroça, e ela pareceu lembrar
que seu pai a esperava. Disse baixinho seu obrigado com uns lábios que mais
pareciam beijar a dizer.
Então correu para a carroça, e o mundo retornou seu
movimento com as rodas do veículo.
E enquanto se afastava, com ele ainda ali suspirando, ela de
quando em quando a cabeça para trás voltava e os olhos diziam o que os lábios
não podiam dizer.
A carroça desceu um declive e desapareceu, mas o ar ainda
trazia impresso aquele encontro e seu coração caminhava junto com ela.
O meu leitor, ao chegar nesse ponto, talvez se pergunte,
como se a mim perguntasse, o fim dessa história, o destino daqueles que apenas
descobriam esse sentimento. Eu poderia dizer que nunca mais se viram, ou
que numa festa, dentro de poucos dias, finalmente se encontraram. Eu podia até dizer que eles namoraram, que houve festa e casamento, e que no fim a
separação de um coração seco os engoliu na desilusão ou que uma fatalidade
levou um dos dois, deixando o outro imerso em tristeza e sem a esperança de um
outro encontro numa estrada empoeirada qualquer.
Eu poderia dizer tudo isso, e coisas ainda piores, com toda
a força que acompanha os poetas melancólicos. Mas em vez disso tudo eu deixo apenas uma
coisa, e o resto você com seu coração, com as emoções que o embalam, deve
completar:
Foi amor!
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