domingo, 26 de fevereiro de 2017

Um visitante

"Abra"! Diz a voz ao bater e o som
Penetra as paredes do meu quarto
Agitando o ar seco, quente e parado
É noite, e minha alma está agitada
A noite vazia ecoa meu silêncio
E o dia espera distante
Quando chega o visitante inesperado
"Abra, não há escape, é nula a saída"!
Diz o carcereiro do mundo exterior
Enquanto ouço garras a rasgar minha porta
É noite, e o dia passeia vacilante para além
De onde minha memória alcança.
-"Não haverá mais dia, e a noite será indistinta,
O medo é meu chicote, e meu insano conselheiro
Quem fugirá de mim? E a quem foi dado
Ser imune ao meu poderio?
As palavras perderam-se em algum lugar
Entre meu coração e boca
Mas que argumentos usaria
Contra quem cavalga a insanidade?
Por fim a porta cede, e o ar ainda mais quente
Vacila pelo quarto escuro
É nada o que traz e nada se estende
Pelo corredor vazio...
Como, pergunto a quem não pode responder
E por fim, como luz que menos ilumina
Entendi...
O que estava lá fora veio daqui mesmo
E tudo o que ameaça é também fruto
Do que anda dentro...
Somos escravos dos medos que nos deixamos ter
E filhos sedentos da alegria
Que nós mesmos afastamos.

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