quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Filhos e Árvores


Existe algo imprevisível na criação dos filhos que se assemelha, guardadas as devidas proporções, ao cultivo de uma árvore frutífera.
Você pode escolher o lugar em que vai plantar a muda, mas não pode controlar os limites de suas raízes. Você poda seus galhos, e até, por meio de algumas técnicas, controla a direção e tamanho deles. Mas não pode controlar, em essência, todas as possibilidades de configuração desses galhos. Não é possível saber como e quando se desenvolverá cada um de seus pequenos ramos.
Você pode fornecer à sua planta água e os nutrientes necessários para que ela se torne viçosa e frutífera, mas é incerto que ela dará frutos até que chegue a época certa e você veja despontarem as primeiras flores. É incerto que os frutos, mesmo com o melhor de seus cuidados, terão exatamente a cor e sabor que você gostaria, pois você não pode controlar o modo como sua planta foi polinizada e nem mesmo a origem dos grãos de polem trazidos pela abelhinha industriosa ou pelo vento impessoal. , Exceto se tiver um grande número de plantas num local totalmente controlado, mas nesse caso a sua planta será para sempre dependente daquele ambiente, e menos viva que todas as outras que vivem entre a terra e o céu.
Você pode ser o melhor lavrador do mundo, mas depende de outros fatores além de sua vontade. Nossos filhos também sofrem influências que não podemos nem devemos controlar. O bom lavrador faz o melhor de si, mas é no mundo ao redor que sua planta vai buscar aquilo que a torna apta a sobreviver. Os filhos levam muito de nós, mas é no mundo que sua própria essência se cristaliza a partir do que têm e do que receberão.
Um filho é como uma árvore que dará os seus frutos se bem cuidada. Mas o lavrador deve entender e aceitar que ele não produz nada, ele apenas abre os portões por onde entram e saem as emanações da vida.
O resto são consequências.

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