terça-feira, 30 de agosto de 2016

Sobre a Dominação Ideológica da nova Militância Social

Foto da Militante Elisa Quadros, a "Sininho".

A "nova militância social" entra nas regiões mais pobres e faz proselitismo intelectual. O pobre e sua comunidade não passam de abstrações sociológicas para essa militância. Eles entram com ideias prontas, e criam movimentos que não são originariamente produto da reflexão das pessoas que vivem naquelas comunidades.
E mesmo assim o militante social vê nas pessoas o que os estudiosos em comportamento animal vêem na natureza. As pessoas e suas relações são reduzidas a um aforismo, um apotegma.

Esse militante vem carregado com conceitos intelectuais muito belos, e ele mesmo, cheio das ideias que tem de si , encarna o libertador, a entidade que destrói toda opressão real ou imaginária ou potencialmente imaginária.
E ainda assim o pobre exerce sobre ele uma espécie de fascínio existencial. O pobre é o que mais se parece com o bom selvagem de Rousseau, depois do índio. Por isso o militante admira o pobre, pois ele representar a antítese do seu próprio modo de vida artificial. Na favela, as relações sociais dependem muito mais das pessoas do que de uma imposição do estado ou das regras de convivência explicitadas nos livros e nas filas da Disney.
Ele precisa do pobre, ele precisa sentir a vida como ela é. Ele tem desejos de dançar na lama com os meninos seminus, mas seu superego conflitado se insurge, e ele mesmo, ainda suspirando pela lama romântica tenta a todo custo suprimir a lama das favelas.
De fato esse militante exerce um tipo de violência sobre essas comunidades, pois ele representa um fluxo de dominação ideológica e intelectual que não tem origem naquelas comunidades. Ele pode observá-los, tecer explicações sobre eles, mas não tem como ele entender essencialmente o que eles são.
O melhor para essas comunidades seria produzir seu próprio pensamento, criar um movimento que não seja fruto das crises de consciência de uma elite entediada. O pobre vai para a academia e volta mimetizando as dores do rico e trazendo as mesmas soluções. É preciso libertar-se disso também.
Eu sei. Sempre fui pobre.

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