sábado, 25 de junho de 2016

Dois vermes num Coco

Dois vermes num coco nasceram da mesma polpa sem conhecer a varejeira que os pusera. Os dias eram sempre escuros, e houve muito tempo antes que eles soubessem um do outro. Viviam de roer dia após dia a polpa branca, e pouco se arriscavam na água doce e viscosa.
Mas um dia, satisfeitos, decidiram nadar além dos poucos milímetros em que viviam. No centro do fruto se encontraram. Cada um sentiu no outro a coisa nova, -"uma polpa flutuante?"- e se mexe!
O verme esquerdo acreditava. Para ele a realidade se inseria na coconvidade, e a vida se espremia nas camadas tenras da polpa, circundada pelo fluido vital, o élan cocal. Ele esperava que num dia qualquer a superfície cocal se rompesse e o interior se tornasse como o exterior. Então ele flutuaria na substância cocal, livre por toda a eternidade.
O verme direito era materialista. Existia por uma interação fluídica entre a polpa e o líquido. Além da polpa havia a casca e além dela um mundo que não era casca nem polpa, muito menos líquido.
E cada um, à sua maneira, tentou comer o outro. Porém se movia, isso movia! E se se movia, era vivo. Ao perceberem isso, conversaram e conversando perceberam a diversidade e o medo. Do medo veio o ódio e do ódio a guerra!
Os vermes cresceram, a polpa acabou e o fluido secou. E só havia os vermes. Um só sentia o outro. O resto era casca de coco.
Enfim, sem nada, se aceitaram. Até que as paredes se abriram! Tudo era cor e cheiro. O céu azul, a grama verde e as nuvens brancas. O mundo do coco era só um coco no mundo! Muito mais que polpa e água, e ainda água e polpa.
O mundo não era coco, tampouco os vermes eram vermes!
E eles alçaram voo...
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Os vermes são dois padrões de pensamento, duas estruturas na psiquê, dois "eus"...duas fontes de conflito.

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