segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A Estrada

Eu deixei os campos para trás, as árvores corriam nas laterais da estrada, enquanto as montanhas me acompanhavam vagarosamente. Só a estrada e o vento como amigos, e a vida, por pequena, pela frente. Sem tristeza ou alegria, apenas a mente calma como as águas de uma piscina coberta e vazia.
Os pneus engolem os quilômetros e o dia inclina-se receptivo diante de um entardecer avermelhado. Sobre mim o céu vai escurecendo e umas poucas estrelas solitárias adornam o firmamento. Na beirada do mundo, a Lua observa como uma atriz que aguarda seu momento de entrar no palco.
A tarde bafeja sobre mim seu hálito úmido, oferecendo seus lábios ocultos num apaixonado beijo. A natureza oferece-se isenta de maldade, ou de estranhamento. É tão natural que viva, e esperado que deixe o encarceramento. Todas as noites são dias brilhantes na esperança de que as almas se libertem de todas as formas construídas, dos prédios compactos e das vidas comprimidas.
Abraçar o mundo é fecundar a existência, diz a voz pacífica do vento. É morrer antes do fim do dia, para renascer, sempre, aos raios da primeira manhã. E toda manhã é a primeira, como toda tarde abre-se em véu para a seiva vivificante do crepúsculo!
E todo o resto se torna nada diante da experiência única da Estrada. Pois nela estão todos os fins, e nela os recomeços...

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