domingo, 13 de setembro de 2015

Minha cela

Da janela da minha cela
Embutida numa vida quatro por quatro
Eu vejo o brilho distante das estrelas
E as nuvens planando na linha do horizonte


Minha cela é meu mundo
Articulado em mil palavras
Grafadas numa ortografia de prisão
Nas paredes, no teto e no chão
E com matéria infecta
Ao redor dos lados quebrados
Da minha privada.

Minha cela não tem grades ou portas
E suspeito que as paredes existem
Apenas nos cantos obscuros
Da minha solitária mente

E ainda assim eu grito no silêncio
Esperando que o guarda uma dia traga
Meu alvará de soltura
E as portas inexistentes
Se abram num raio de sol
Das sombras da minha cela
Para o dia claro da liberdade

Mas eu nunca vi guarda algum
Nem companheiros de prisão
Não lembro de algum julgamento
E nem imagino que crimes cometi
Embora eu grafe sempre nas paredes
Todos os crimes que posso imaginar
Numa tentativa de neles eu
Encontrar a expressão do que sou.

Na janela da minha cela
Eu fico muito tempo a pensar
Em como eu mesmo sou
O guarda e o companheiro
O juiz, e a folha suja da sentença
E a cada dia mais me convenço
De que eu sou o tudo e o nada
Eu sou o preso e a dor
E em minha mente se encontram
As paredes úmidas da minha cela...

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