quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Eu fui um desses meninos tristes.

Eu fui um desses meninos tristes que a gente só vê em quadros ou filmes
Desses que gastam os dias olhando o solo em busca de nada
Ou perdidos em sonhos de uma realidade que poderia ser ao menos um pouco melhor
Com horizontes fechados e quase nenhuma perspectiva
Sofrendo aqui e ali por ser burro demais, pobre demais, escuro demais
E por ser criança quanto todos sabem que a vida de uma garoto como eu era
Só valia algo se das mãos eu tirasse algum proveito, pois aos cavalos, como eu, só restava trabalhar.

Eu era um menino triste que não podia ter opinião, grande demais para brincar, pequeno demais para me defender.
Eu era um menino tentando ser respeitado por um adulto, tentando ser digno de ser ouvido
Tão ferido por palavras duras, tão ferido por mãos estranhas
Eu era um menino perdido, sem pai que me desse um exemplo
Ou alguém que velasse por mim
Sempre obrigado a dizer as coisas certas, ou não dizer, e ter o comportamento correto
E a estar sempre escondido para que ninguém achasse que um vagabundo daquele tamanho estava por aí sem fazer nada
Mas eu tinha só onze anos! Por que eu não podia ser criança?
Mas eu não podia. Naqueles tempos a infância era algo que durava até o seis anos ou menos.

Às vezes eu vejo notícias em algum jornal, falando de uns meninos um pouco maiores do que eu era
E sinto a dor incomensurável que eles nem imaginam que têm
Porque eles também estão perdidos, olhando de longe uma névoa
E vendo apenas um lugar hostil em que se vive sendo cruel
E a vida é ganha apenas para hoje
Como se não houvesse amanhã e tudo tivesse que ser gasto agora
Comido antes que esfrie, bebido antes que evapore
Como se o tudo fosse nada e o momento fosse algo só um pouco menos duro que desespero

Eu entendo, eu sei. Eu fui um desses meninos tristes!

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