domingo, 26 de janeiro de 2014

Auto-estima elevada : Meu DIFERENCIAL.

Não sei exatamente quando foi, imagino que ali pelos sete ou oito anos, mas sei que um dia descobri que sou absolutamente ridículo! Veja bem, "absolutamente", tão completo que nada sobra para questionar...


Algumas almas pequenas vão dizer que isso é defeito, eu retruco que saber se enxergar é uma virtude e tanto...



Eu tinha chegado naquela fase em que é preciso gostar de alguém, e achei de gostar da menina mais bonita da sala - uma mistura Xuxa anos 80 e Elke Maravilha anos 70- a Patrícia que era pobre, mas era patrícia pelos meus padrões de pobreza.

Eu não lembro mais - essa é uma das coisas que me fazem ridículo, minha memória ruinzinha- como a coisa se deu, só sei que devo ter dito que "gostava" (termo que as crianças usavam) dela. Ele estalou os olhos para mim, os dois tufos de cabelos louros, um de cada lado da cabeça, parecendo duas orelhas caninas, se agitaram para cima e para baixo e ela de um um vibrante "eca!", juntou as secreções presas na garganta e deu aquela orgulhosa cuspida carregada aos meu pés...

No fim da aula, correndo entre os pedriscos do pátio da Emiliano Perneta, minha escola primária, de uma meia dúzia de outros "gostantes", sob os risos e aplausos da Patrícia, eu percebi, como Newton sob a macieira (adoro histórinhas apócrifas!), que eu era o exemplar perfeito de um tipo de gente que até então eu mal notara: os que são sem jeito; que sempre dão bola a fora; que rastejam quando os outros correm; que deixam a comida escapar pelos cantos da boca; que confundem "crocodilo" com cocô de grilo...

Dali poderia ter saído uma teoria revolucionária sobre a "tonguice" humana, mas a coisa apenas se insinuou na minha alma, afastada de súbito pela primeira pancada que aderiu ao meu cocoruto infestado...

Como eu disse, não lembro bem o que aconteceu depois, imagino que minhas pernas resolveram fazer o que minha cabeça não pode: reagir!

Anos depois, frente ao pelotão de fuzilamento...ops! Anos depois, hoje exatamente, meditando sobre a feiura humana - há dois tipos de pessoas no mundo, os feios e os mais feios, só que entre os mais feios existem alguns com talento de ser mais feios ainda, estes são os lazarentos de feios, por dom e não por nascimento - como eu dizia, meditando eu finalmente atingi a plena catarse daquele dia perdido na memória de trinta e dois anos atrás:

Hoje, Patrícia, você tem trinta e oito ou trinta e nove anos. Imagino que se tornou uma polaca enrugada antes da hora, ou está com cento e vinte quilos, ou seca, com as ancas flácidas apenas presas aos ossos...

Mas não pense o meu leitor, se algum houver, que tenho mágoas dela, pelo contrário, pois já disse que foi naquele dia que a minha incrível condição se insinuou de leve na minha psiquê ainda mal formada! 

Depois daquele dia, embora não tendo uma teoria ainda formada, em cada novo fora, em cada dança negada, em cada piada sobre mim, em cada noite deitado sob as estrelas sofrendo de um amor qualquer, sempre imaginário, ou chutado bem forte por outros moleques, ou passando diante de uma vidraça vendo meu jeito de andar...cada novo evento apenas me trouxe mais perto dessa constatação plena: sou um idiota com o cérebro intacto! Um bobo sem corte! Um alguém com o lirismo dos clowns de Shakespeare, sem seu charme ou sorte...

Alguns vão dizer que é mentira, mas não é, tudo foi como disse, e até pior...e para mostrar que é assim, paro por aqui, enquanto o texto não tem pé nem cabeça e coloco o ponto onde os outros colocariam uma vírgula.

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