O vento lá fora balança os galhos...
O vento lá fora balança os galhos da árvore
Que batem à minha janela, eles e a chuva...
A chuva encharca o solo e o dia está como a noite,
Estamos aqui sozinhos, perdidos, ansiosos pelo luar
Eu e meus pensamentos...
Eu tento resgatar deles o passado...
Mas só consigo ver o que a janela me mostra
Além do galho desfolhado...
Um tempo cinza, ainda que seja dia, nublado,
Uma terrível coisa chamada "agora",
Não há passado...
O galho ainda bate, é o vento.
Estendo as mãos em total silêncio e abro a janela
Meus olhos estão fechados,
Mas o vento frio e as insanas gotículas da chuva
Me açoitam como mil chicotes negros...
Não sinto nada...
A janela era e nem é mais que uma memória,
Porque eu estou ali flutuando no vazio
Além das paredes.
Além da chuva e do vento
Distante algo se faz existente, mas eu nada vejo
Meus olhos estão fechados,
Não há olhos...
Tudo para no silêncio do momento
Que tem nele todos os momentos de antes e de "agora",
Meus pensamentos são agora como rochas
Rolando soltas pelo espaço...
Estou diante de todos os futuros possíveis
Numa procissão infinita de imponderabilidades.
E não estou em nenhum deles
E neles todos vejo tudo o que jamais terei
Sofrendo uma dor imensa por perder o que não tenho...
As pessoas que não conheci
Os carros que não tive e os amores que não vivi,
Eu sou uma sombra entre eles
Como a lápide de um feto abortado
Como um livro sem palavras nem imagens...
A janela e o vento,
Abro meus olhos, a face molhada,
É chuva ou são lágrimas?
Ali está o galho desfolhado e além o campo molhado
Muito longe eu vejo as luzes da cidade
A tempestade passou,
E no céu que começa a ficar limpo
As primeiras marcas...
Do luar.
16/06/2012.
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