sábado, 18 de junho de 2011

Sonhar acordado

Sento-me sob as árvores,
É meu dia de contemplar o horizonte,
Divago como quem reage aos socos da vida
Sozinho me encontro no meu mundo particular.
Não há emoção ou reflexão profunda,
Tudo é silêncio na minha alma obscura
Só as imagens se revezam num ir e vir contínuo
Em plásticas sensações e dissabores.

O silêncio é meu amigo, colho dele o fruto desejado,
Espero que sua copa frondosa me dê abrigo,
Contemplo o horizonte perdido
Com vagar as imagens continuam,
São ondas num mar calmo, são nuvens num céu vazio.
“Nasceu, é um menino”
Caminha com passos vacilantes,
Nas primeiras letras um mundo desconhecido
E sob a égide da dor toda uma vida perdida.

O silêncio me anima, até as flores estão quietas
Tudo ao redor espera a revelação que não virá.
A vida flui num momento
E o menino diante do abismo é agora um velho
Carregado de desilusões e despedidas,
Diante do vazio exponho minha alma,
Como a grave carcaça de Baudelaire
Agitada pelas asas do Albatroz.

E num momento tudo se desfaz
Quando uma brisa agita as flores vacilantes,
Elas choram seu mistério de ser e tiram de mim
O fruto doce do não-ser.
Os céus gritam e choram sobre mim,
E a natureza desvela seu luto
As flores já não choram, uivam.
E o silêncio é só uma lembrança vazia,
Abro os braços e aceito solícito
A tempestade terrível que se avizinha.

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