terça-feira, 21 de junho de 2011

Pastor et Nauta

Duas semanas se passaram
Desde que estou em alto-mar
Sol e sal ressecam minha pele
E a água está para acabar.
Tenho as ondas por companheiras
E nas noites travo longas conversas
Com uma multidão de estrelas
Todos os meus amigos
Descansam esquecidos
No fundo do mar

Saí no Talante
Minha nau guerreira
Desde o litoral do Paraná
Em busca de pesca abundante


Numa noite tenebrosa ouvimos
Que negra tempestade se aproximava
Pelas vozes chiadas do rádio...
Levantei os olhos confiantes
Apoiado na amurada que
Bela adornava a proa
E disse com fala orgulhosa:

“Passam os anos sobre este nauta
Que cem mil léguas navegou
Vi peixes maiores que carros
E cetáceo que, não duvido,
De Leviatã a lenda inspirou,
Sou homem do mar,
Sou filho de Poseidon
Galguei ondas qual montanhas
E tempestades que por dias
Ocultaram a terra e os céus”

Parei por um momento
E esperei que minhas frases
Fossem a força que a parteira
Aplica às nádegas do infante
Que neonato o limiar da terra atinge
Com os vagidos de vivente.
Pois quisera em meus homens
Impingir a coragem que em mim não residia.

“Não seremos hoje humilhados,
Sobre nós não deitarão as vagas
Sepultando-nos no leito esquecido,
Não somos alimento oferecido
Aos grandes monstros do Abismo!”

Olhei de soslaio minha congregação
E vi neles inspirada mensagem
Que malgrado os levaria à perdição.

Se a mim me fizessem os deuses
O grato favor de extinguir meus pensamentos
Ser-lhes-ia, aos inexistentes, o princípio
Que faria a fé lançar âncora sobre
Esta seção do Tártaro!

Em que serviço usarei minha grandiloqüência
Se sozinho vago nesse deserto?
E como posso suportar esses último momentos
Se por meu arbítrio estão
Meus companheiros
Jazendo insepultos no leito arenoso
E no ventre de seres abjetos?

Não venha um barco me salvar
E fazer de mim espetáculo
Diante das línguas maldizentes
Que farão me atormentar
Como se pouco fosse
A grave culpa que sobre mim pesa.

As ondas submergiram meus amigos
E eu agarrado ao escaler
Com algo de provisão e bebida
Por suposto ser o primeiro tragado
Fui da tormenta poupado
Para ser espetáculo dos numes
Entediados.

As águas surgem plácidas
Por sobre sua superfície
Um palco do além!
Vejo graves vultos marcados
Por um signo negro de maldição.

São eles, os seres abortados,
Marinheiros como eu,
Meus irmãos que aqui morreram,
Vítimas da minha obstinação.
Estão como verdugos
Do que fora seu capitão
Erguem para mim as mãos descarnadas
Exigem reparação!

As horas passam..
Sede...fome...
Não sentir e sentir
Só o zumbido me atinge...

A sombra sobre mim,
Asas...

Deixo nas águas,
Nesse lúgubre lamento,
Meu tesouro, minha vida,
Meu últimos momentos.

A dor que em mim se aninha,

As negras letras do
Meu epitáfio...

Um comentário:

  1. Concordo plenamente!!!
    Essa poesia não tem cadência, nuns momentos emplaca umas rimas e noutros nem versos brancos!
    E que pescador é esso com essa linguagem?
    Num momento você chega perto do coloquial, em outro quer falar como Camões!!!

    E se eu dissesse que foi tudo pensado assim mesmo, como forma de experimentação?

    E o título, você conhece?

    Uma pista:

    João Paulo II "segundo" São Malaquias (RSRSR).

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