Eu vi meus sonhos morrerem de inanição
Deixados sozinhos à sombra das intempéries
Vi-os definharem de mansinho, com a voz sumida no
Meio do peito entre arfantes gemidos de ansiedade.
Eu vi meus sonhos maltratados, lançados à rua
Como velhos sapatos furados,
Perdidos nas esquinas, descendo lentamente pelos rios,
Dilacerados pelas bocas dos cães que
Amam afiar neles suas presas dilatadas.
Eu vi meus sonhos como seres abortados,
Sem berço, sem afagos, sem identidade,
Um resto qualquer de matéria orgânica que aos poucos
Se vai fazendo poeira nas estradas esquecidas.
Eu vi meus sonhos como erva indesejada,
Que entre as boas plantas nasce intrometida,
Vi-a decepada, arrancada até as raízes,
Ferida ao solo deixada, seca alimentando as chamas,
que queimam as almas infelizes.
Eu vi meus sonhos como o inexperiente soldado
Por fogo amigo alvejado inclemente
vendo de longe as chamas antigas da batalha
E recebendo uma lápide em que seu nome jaz
Pra todo o sempre, ignorada semente.
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