quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Democracia

Democracia é uma ideia linda. Mas entre a beleza de uma ideia e o mundo real existe um abismo de subjetividade. Uma bela ideia que nem sempre produz belos frutos. Churchill uma vez disse que a democracia é só o segundo pior sistema de governo, atrás de todos os outros. É difícil não concordar com isso, pelo menos em consideração à história recente - e por "recente" quero dizer os últimos duzentos e poucos anos desde a independência americana ou, um pouco depois, a revolução francesa.

No primeiro caso, uma democracia imperfeita, mas com solidez suficiente. Talvez porque afastada dos elementos que resistiam ao "novo". No caso franco, a revolução levou ao terror, e o terror ao velho corso.
Será que o americano era mais "preparado" que o francês? Penso que a diferença estava nos objetivos, muito mais pragmáticos no caso americano, construir uma grande nação (com liberdade), e muito mais diluído nos franceses, a ideia da liberdade.
Uma democracia moderna (sentido temporal) como a nossa é outra história. Verdade é que pensamos ainda num dos dois tipos de "ruptura", e é essa a tônica das discussões atuais. Penso que uma democracia assim precise de duas coisas, um sistema que permita ao povo atuar na política de fato, e, o mais difícil, um povo minimamente preparado para isso. O preparo é menos formal do que parece, trata-se de disposição mental, de senso crítico, de resistência aos apelos emocionais, portanto, uma resistência miníma à demagogia. Aliás, toda democracia convive com demagogia, mas há casos em que a demagogia substitui de modo insuperável a democracia.
Usei "demagogia" em dois sentidos, o ato de ser demagogo, e o governo do demagogo. E um governo assim retroalimenta a máquina da democracia com o combustível da dependência. Um povo dependente nunca jogará bem a democracia, pois apenas corre para suprir uma ausência que existe como fator que o mobiliza para a servidão.
Então está tudo perdido? De modo algum, pois a natureza humana sempre arruma um modo de se insurgir contra a servidão, e a resistência vai arrumando modos de continuar espezinhando a demagogia.
O grande perigo é quando a ideologia, abraçada à resistência, torna-se fim, quando não pode ser mais que meio. O mundo melhor vai sumindo no horizonte, borrado pela bandeira, e esta segue tremulando e crescendo até que não haja mais horizonte.
Então a democracia morre.

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