terça-feira, 1 de agosto de 2017

Agosto germina nas terras secas de um julho angustiado

Agosto germina nas terras secas de um julho angustiado. Éramos deuses e velhos olímpicos curtindo bossa nova, cerveja e rodelas gordurosas de calabresa com cebola. Os dias mal nasciam e a noite com pressa irrompia pelas nossas sacadas, enquanto nós, embriagados, caminhávamos rumo ao freezer em busca de mais uma garrafa. E sentávamos sob a luz estropiada da nossa lua particular, ansiosos por mais histórias, por sentir nas carnes frias um pouco do calor daquela juventude, inventada ou não. E no mar de histórias picantes de secretárias, ninfetas e todo tipo de amantes, íamos mostrando nossa virilidade verbal, nossa sensualidade gutural entre goles ansiosos e mãos cheias de gordura. E ríamos com o coito das nossas lembranças, com o coito impuro das nossas fantasias, das nossas verdades, das nossas impudicas mentiras. O mundo era ainda tão jovem quando nossas aventuras nos levaram aos quartos de hotéis, aos bordéis de beira de estrada, aos locais cobertos pelos mantos da santidade e da loucura. Éramos deuses, numes impetuosos, quando derrubamos os primeiros muros. Quando enchemos quadras e galerias de templos, clubes e universidades, da nossa irresistível ladainha, do nosso desejo de copular com os corpos, com as mentes, com as emoções e com a fé de gente entediada. Inventamos o mundo no fluir doce e inebriado das nossas palavras. E verdade era só a verdade que nos tocava, porque nós tínhamos o mapa do mundo, nós tínhamos a posse do conhecimento sagrado que fazia o globo girar. E nossas orgias eram puras, como eram puras as chuvas de todo setembro. Mas as nossas verdades secaram com o tempo, e o próprio pó das coisas esquecidas desceu sobre nós, fazendo da nossa face encovada um vale seco onde planta alguma jamais ousaria nascer. A noite foi expelida pela cloaca cansada da madrugada, e o sol começava a se insurgir nas beiradas do mundo, quando deixamos a varanda da casa. As brasas eram cinzas, e as cinzas um pó seco deitado sobre a mesa. Os últimos cães latiam roucos para as sombras dos postes nas esquinas, e nós, ainda sentindo na boca os gosto das nossas fantasias, descemos as ruas vazias rumo ao tedioso vagar das nossas indiferentes vidas.

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