terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Empatia

Empatia. Se para o indivíduo que a sente, ela pode ser dolorosa, é bastante evidente que nas relações "maiores" ela não é só importante como, tenho a ousadia de dizer, sua ausência é um dos MAIORES PROBLEMAS DO MUNDO, se não for o MAIOR.
Não é mais dúvida que somos todos membros de uma só espécie,a humana, mesmo assim estamos divididos em estratos sem fim. Desde sempre dividimos o mundo entre "nós" e os "outros". O "nós" representa aqueles para quem a empatia é permitida, e os "outros" são os interditos. As razões para isso estão, falando num sentido profundo, intimamente ligadas ao modo como nossa especie se desenvolveu, em suma, era uma questão de sobrevivência num ambiente com recursos limitados.
Obviamente ainda vivemos numa ambiente com recursos limitados, mas o nosso modo de organização social se desenvolveu a tal ponto numa rede tão intrincada de relações econômicas, culturais, etc, que não faz mais sentido, organicamente falando, a divisão em pequenos grupos. A humanidade é hoje uma grande organismo que se espalha sobre a face do mundo. Não é mais possível, nesse tipo de civilização, manter o distanciamento. É por isso que a empatia é tão necessária, pois o "outro" foi extinto. Só há "nós". Não podemos fugir, é irracional conquistar territórios e expurgar suas populações.
O modelo dicotômico pertence ao nosso passado, e talvez faça algum sentido, mas ele não é viável no mundo de hoje, e talvez já não fosse por uns bons séculos antes de nós. Porque nossas civilizações estão unidas por nossa tecnologia, nosso "modo de vida moderno". E a não ser que nosso mundo sofra um cataclismo universal, isso continuará irreversível.
Só que instintivamente ainda somos aqueles desbravadores tribais que saíram da África, conquistaram Ásia, Europa, Oceania e Américas, deixando uma trilha de ilhas povoadas pelo caminho, e sempre esquecendo que éramos irmãos dos que iam ficando para trás.
Nosso sentimento pessoal, instintivo, nos leva a buscar um grupo de pertencimento, já que não conseguimos, sem que uma força coletiva e civilizante nos leve a isso, nos enxergar como parte de uma realidade humana "macro".
Mas somos humanos, e precisamos "moralizar" nossas bandeiras. Vistas com os olhos limpos, todas essas batalhas não fazem o menor sentido, mas estamos sempre organizando nosso mundo ideal através de numerosas racionalizações que geram ideias, livros, movimentos, revoluções, guerras, apartheids e, paradoxalmente, irracionalidade.
Em nosso mundo, o "outro" já não é mais um objeto que impede a nossa sobrevivência, ou uma fonte de novos recursos. Ele é uma abstração, uma forma de "alterização" artificial. O outro é construído a partir de modelos teóricos, fabricado a partir de uma idealização do que somos "nós". O "outro" é uma imagem inversa e fragmentária de uma realidade que só pode ser boa do lado de cá.
E isso é exatamente o contrário da empatia, ou uma forma bizarra de empatia. Em vez de se colocar no lugar do outro, projeta-se no outro os demônios da nossa própria imagem (imaginária) "imperfeitizada".
Não se trata mais de pensar diferente, mas de pensar que se é diferente. Diante disso, todo mal é justificado e toda violência desculpada.
"Ame o próximo como a si mesmo"
Mas quem é meu próximo?

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