quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A Cidade Morta



O vento varre as ruas da antiga cidade
Despida das faces alegres e dos dias barulhentos

Das buzinas intermitentes, das pessoas como o fluir de um rio
Em cada esquina se erguiam as vozes dos vendedores
E as bancas cobertas de doces, de roupas, de flores
Nas praças cheias de bancos, de estudantes, de pedintes
De velhos jogando damas nas mesas de cimento
O que resta do rio de gente é um leito seco que mostra
No solo rachado esquecidos caracteres formados pelas fissuras
Da alma da cidade o vento eleva um desarmônico lamento
E formas mortas bailam pelo ar no corpo de sacos plásticos
Sacolas com letras vermelhas e desenhos amarelos
Explosões mostrando que quarta de manhã haveria
A mesma promoção de todas as semanas, vegetais
O pó dança com as sacolas nas esquinas vazias
E o sol pálido brilha através das nuvens sulfúricas
Que espalham sobre a terra morta sua ácida chuva
Os prédios estão vazios, e as janelas estão sujas
As janelas que ainda não foram quebradas pelas forças
Cegas que movem os também cegos elementos
Ninguém sabe porque ninguém há para saber
Quando o pensamento está enterrado em livros que
Ninguém pode ler porque ninguém há para ler
Nesses dias nem alegres nem tristes
Em que a humanidade resiste apenas nas imagens
Que sobraram e nas órbitas vazias dos ossos
escondidos nos quartos, deitados sobre camas
Cercados de lembranças, adornados por sombras...

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