Observo minha
filha sentada no sofá. Minha geração, minha continuidade, minha eternidade.
Penso nas gerações que me sucederam- se eu ao menos pudesse resgatar minha
memória genética!- gerações de seres anônimos.
Penso nas buscas, nas vidas, nos anseios, nos devaneios, nos sofrimentos dos
quais eu sou herdeiro. Vejo com a imaginação as grandes correntes migratórias
saindo da África, cruzando a Ásia, buscando o oceano, andando sobre Bering...
Quanta gente, quantos seres, quantas histórias esquecidas!
Então olho para o futuro, um dos possíveis. Minha filha nos seus filhos quando
eu não for mais que uma lembrança, quando eu nem mesmo for uma lembrança,
quando eu for apenas mais uma hipótese na mente de um ancestral distante...
Penso nos meus sonhos atravessando os séculos, nesses "memes"
inquietos que me sacodem dia e noite. Penso no que profissionais capacitados
farão deles, penso que alguns loucos se apropriarão dos meus sonhos. Penso nos
meus filhos distantes cruzando a abóbada celeste, pisando o pó de outros
mundos, aquecendo-se sob a luz de outras estrelas.
E de alguma forma estranha e inexplicável me vejo lá, não como um ser
espiritual ou coisa parecida, mas como um impulso, um aglomerado de sonhos e
aspirações que de alguma forma eu recebi e passo adiante. Uma herança tão
antiga quanto é antigo aquele meu primeiro ancestral que ousou um dia sonhar
observando o "infinito"....
Nenhum comentário:
Postar um comentário